Enfermeiro de MSF descreve o que viveu durante bombardeios no Afeganistão
- Yasmin Goya
- 1 de nov. de 2015
- 2 min de leitura

Lajos Zoltan Jecs estava no hospital de Médicos Sem Fronteiras em Kunduz quando a
instalação foi atingida por uma série de bombardeios durante a madrugada deste sábado.
“Foi absolutamente assustador. Eu estava dormindo em nossa sala no hospital. Por volta das 2 horas da manhã eu fui acordado pelo som de uma grande explosão. Ao longo da última semana, já havíamos escutado outras bombas e explosões, mas sempre distantes. Esta era diferente – perto e alta. No início, houve confusão. Enquanto tentávamos descobrir o que estava acontecendo, houve mais bombardeios. Ouvi alguém chamando meu nome. Era um dos enfermeiros. Estava coberto de sangue, com ferimentos por todo o corpo. Naquele momento, eu não conseguia processar o que estava acontecendo. Ele estava pedindo ajuda. Naquela sala, temos suprimentos médicos básicos em quantidade limitada. Fizemos o que podíamos. Não sei exatamente quantotempo, mas foi talvez meia hora depois que eles pararam o bombardeio. Eu fui para fora para ver o que estava acontecendo: o hospital estava destruído, queimando. Eu não sei o que senti – estava em choque de novo. Fomos procurar por sobreviventes. Alguns já tinham conseguido chegar a uma das salas seguras. Uma por uma, as pessoas começaram a aparecer, feridas, incluindo alguns de nossos colegas e acompanhantes dos pacientes. Tentamos dar uma olhada em um dos prédios em chamas. Não há palavras para o quão terrível estava. Na unidade de terapia intensiva, seis pacientes estavam queimando em seus leitos. Procuramos por alguns profissionais que estariam no centro cirúrgico. Não conseguimos encontra-los. Felizmente, depois descobrimos que eles encontrado um local seguro. Perto dali, demos uma olhada na ala de internação. Por sorte, intocada pelo bombardeio. Rapidamente, checamos que todos estavam ok. Então, de volta ao escritório: pacientes, feridos, chorando, por todos os lados. Foi uma loucura. Tivemos de organizar um plano de atendimento em massa para atender as vítimas no escritório, verificando quais médicos estavam vivos e em
condições de ajudar. Fizemos uma cirurgia de emergência em um dos médicos. Infelizmente, ele morreu ali, na mesa do escritório. Fizemos o nosso melhor, mas não foi suficiente. Toda a situação foi muito difícil. Vimos nossos colegas mor
rerem. Os primeiros momentos foram de caos. Profissionais suficientes tinham sobrevivido, então pudemos ajudar alguns feridos. Mas havia muitos que não pudemos ajudar. Alguns de meus colegas estavam realmente em choque, chorando e chorando. Tentei encorajar alguns dos profissionais a ajudar, oferecer-lhes algo no que se concentrar, afastar suas mentes do horror. Mas alguns estavam simplesmente chocados demais para fazer qualquer coisa. Ver homens adultos, seus amigos, chorando descontroladamente – isso não é fácil. Tenho trabalhado aqui desde maio e já vi muitas situações médicas pesadas. Mas é uma história totalmente diferente quando eles são seus amigos. Não tenho palavras para expressar isto. O que está no meu coração desde esta madrugada é que isto é completamente inaceitável. Como pode acontecer? Qual é o benefício disso? Destruir um hospital e tantas vidas para nada. Não consigo encontrar palavras para isto.”
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